Aquiraz

O barulhinho dos bilros se encontrando no movimento das mãos das rendeiras é a trilha sonora do Centro das Rendeiras da Prainha, em Aquiraz. É nesse local que 35 rendeiras, além de dividirem boxes para comercializar seus produtos, trabalham nas almofadas de chita com hastes de madeira e bilros, caroços de buriti, para trançar essa renda que é típica das praias do Ceará.

A presidente da Associação, Maria Cleide dos Santos Costa, 65, aprendeu com a mãe a rendar. Filha de pescador e mãe rendeira, Cleide tinha vontade de aprender e, aos cinco anos, usava a almofada da mãe escondida. “Por conta disso, ela fez uma almofada pequena pra mim, de coco com uns coquinhos pequenos de bilro. Me senti realizada quando ela me deu essa almofadinha”, disse. Até que aos oito anos, ganhou sua almofada de verdade. “Eu era tão pequena naquela almofada, não imaginava que ia criar meus oito filhos com a renda”, conta.

Naquela época, a mãe vendia a renda no mercadão de Fortaleza, mas as dificuldades de acesso à capital cearense eram grandes. “Só tinha ônibus para Fortaleza uma vez por semana. Então, minha mãe vendia bem baratinho para os donos de bar da Prainha”, conta. Meu pai ia pro mar e minha mãe acordava cedinho, colocava a almofada na calçada e, com o tempo, eu também fazia o mesmo. A história de Cleide é muito parecida com as das outras rendeiras do Centro da Prainha.

A Associação começou há pelo menos 40 anos, com a artesã Luzia Moisés que reuniu as mulheres rendeiras do local. “As rendeiras vendiam as peças em caixas na cabeça e saiam oferecendo na praia”, conta. O primeiro centro das rendeiras foi construído nos anos 80. “Era feito de palha de carnaúba com cinco quiosques que cabiam dez rendeiras dentro”, disse. Há quatro anos, a sede da associação foi reformada e passou a contar com 35 boxes, área para alimentação e uma estrutura confortável para receber turistas e moradores.