Rota Cariri

Sobre a rota

Polo cultural, religioso e histórico, o Cariri é uma região de confluência dos estados do Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba. Território da Chapada do Araripe, que guarda tesouros do período cretáceo, o local impressiona pela paisagem verde em meio ao sertão. O Cariri cearense está localizado no entorno da bacia sedimentar do Araripe e é composto por 28 municípios ao sul do Estado, a maior parte deles celeiro de talentosos artesãos que trabalham com madeira, couro, flandre, palha, crochê e rendas.

Nessa rota, propomos um passeio pelas paisagens, pontos turísticos e, principalmente, pelo artesanato de Juazeiro do Norte, Crato, Missão Velha, Brejo Santo, Potengi, Nova Olinda, Santana do Cariri e Várzea Alegre. Deixe-se fascinar pelas influências culturais, pelo meio em que essa população vive e pelo poder e beleza da arte feita à mão dos artesãos locais. Lá, as relações entre profano e sagrado se encontram nas referências religiosas e festividades típicas desses locais. Seja bem-vindo ao encantador Cariri cearense!

Potengi

Cidade dos ferreiros, Potengi fica a uma hora e meia de distância de Juazeiro do Norte (80 km) e está situada a 550 metros de altura. A subida garante paisagens impressionantes da Chapada do Araripe, com vegetação típica e pedras exuberantes. A cidade também é referência na observação de pássaros e do tradicional grupo do Reisado de Caretas. O local abriga ainda o Museu Orgânico de Artesanato em Flandres que guarda criações e miniaturas de aviões do Mestre Françuli, o inventor do sertão. Além das aeronaves, Françuli, 80 anos, desenvolve com as próprias mãos utensílios para os agricultores como os candeeiros, tubos para armazenar legumes e diversos objetos e equipamentos úteis para o sertanejo. Um lugar tranquilo e cheio de encantos para iniciarmos nosso percurso pelo artesanato caririense.

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Nova Olinda

De Potengi a Nova Olinda são apenas 40 minutos de carro pela CE-292, por isso sugerimos que siga esse roteiro pela cidade que abriga o mestre do couro, Espedito Seleiro. A oficina e loja do mestre artesão se tornaram pontos turísticos da cidade e possuem, em anexo, o Museu do Ciclo do Couro. Espedito nasceu em uma família de seleiros que forneciam equipamentos aos vaqueiros, tropeiros e cangaceiros da região. Atualmente, é conhecido internacionalmente pela beleza e originalidade dos arabescos multicoloridos moldados em  sandálias, bolsas, vestuários e móveis. Um estilo que é característico do mestre Seleiro. 

Na pausa para o almoço, experimente a comida caseira do restaurante que funciona na Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, uma ONG cultural e filantrópica que faz um trabalho de formação educacional de crianças e jovens, por meio da vivência em gestão institucional. O memorial funciona no local onde foi erguida a primeira casa de Nova Olinda, no século XVIII, e que em 1992 foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A cidade reserva um interessante passeio pela arte, cultura e história da região.

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Santana do Cariri

Considerada a capital cearense da paleontologia, Santana do Cariri fica a 475 metros de altura, na Chapada do Araripe. Dentro da cidade funciona o Museu de Paleontologia Plácido Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (Urca). O acervo do museu abriga fósseis excepcionalmente bem preservados, principalmente do período cretáceo, da Bacia Sedimentar do Araripe (estrutura geológica de centenas de milhões de anos) e réplicas de dinossauros que viveram no Cariri há milhões de anos.

Santana do Cariri também se destaca pelo artesanato na tipologia de fios e tecidos, especialmente a renda de bilro em linha grossa, típica da região e encontrada em poucos lugares do Ceará. Com a renda, as mulheres do grupo produtivo de Santana do Cariri produzem redes belíssimas que levam até três meses para ficarem prontas, além de toalhas, caminhos de mesa, panos de cozinha e outros itens. Em almofadas grandes, elas trabalham com os bilros (feitos de sementes de buri) no Museu Histórico Casarão Cultural Coronel Felinto da Cruz Neves, outro ponto turístico da cidade.

Depois de conhecer o trabalho dessas talentosas rendeiras, siga para a Igreja Matriz de Nossa Senhora Sant’Ana, uma construção centenária em estilo neo clássico. O lugar é caminho para o Pontal da Santa Cruz, a 750m de altitude acima do nível do mar, com restaurante e mirante na Chapada do Araripe. O geossítio está aberto de terça a domingo e a vista panorâmica é de tirar o fôlego.

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Juazeiro do Norte

O que não falta são meios de chegar a Juazeiro do Norte, que fica a quase 500 quilômetros de Fortaleza: de avião, ônibus ou carro, seguindo pelas rodovias BR-116, CE-138, CE-371, CE-269 e CE-385.

Juazeiro do Norte é a terceira cidade do Ceará com maior população. Alavancada pelo turismo e comércio religioso, o município respira cultura popular. O artesanato local (e a economia) foi impulsionado pela principal personalidade da cidade, Padre Cícero. Responsável por uma das maiores peregrinações de devotos do nordeste brasileiro, ‘Padim’ Padre Cícero foi homenageado com uma estátua de 27 metros na Colina do Horto. O local de demonstração de fé também vale a visita para aqueles que querem entender a história e cultura local, além de apreciar a bela vista da cidade.

A fé e religiosidade também foram o motor propulsor dos artistas locais, que estão reunidos em sua maioria no Centro de Cultura Popular Mestre Noza, no centro da cidade. Um dos principais pontos turísticos de Juazeiro do Norte. Com peças de aproximadamente cem artesãos que trabalham diversas tipologias, sendo a principal delas, a escultura em madeira, a associação é um respiro no meio do movimentado Centro. Em um espaço agradável, o visitante pode adquirir peças e passear pelas referências desses artistas, histórias e acervo das primeiras gerações de artesãos como Mestre Noza, Nino, Manuel Graciano, Maria Lourdes Cândido e Expedito Sebastião da Silva, além de acompanhar a produção dos escultores que ali trabalham, como Zumbin, Racar, Beto, Cezim, Paulo Sérgio e muitos outros.

Ainda em Juazeiro, conheça o berço do cordel e da xilogravura na editora Lira Nordestina, equipamento cultural ligado à Universidade Regional do Cariri (Urca) que funciona no Complexo Multifuncional da cidade. Lá, o visitante conhece a história do cordel e pode adquirir matrizes de xilogravuras e livretos dos principais cordelistas do Estado. O equipamento possui assessoria artística do xilógrafo José Lourenço, criado entre as máquinas tipográficas do fundador José Bernardo da Silva. Com o nome de Tipografia São Francisco foi uma das maiores editoras de cordel do Brasil, nos anos 50.

Nesta rota, também te propomos passear por roteiros que vão além do convencional, como a casa da Família Cândido, no centro de Juazeiro do Norte. O local abriga acervo da mestre da argila Maria de Lourdes Cândido, falecida em 2021, e a produção das talentosas filhas, Dora e Socorro (Corrinha) Cândido.

Sugerimos ainda um passeio pela Casa das Três Marias, uma construção de taipa erguida por alguns dos principais escultores de Juazeiro, Din Gonzaga Alves e Pel Cabral, na Vila Três Marias. O local reúne peças de arte popular de diversos artesãos e também propõe o aprendizado da técnica aos jovens do bairro carente Boca das Cobras, que não têm condições de comprar as ferramentas. O bairro é berço dos principais escultores de Juazeiro do Norte.

Depois, segue para o Compadres Ateliê dos escultores Nil Morais e Hércules Modesto. A casa no bairro Tiradentes também comercializa esculturas de artesãos da região e permite acompanhar o trabalho desses talentosos artistas no próprio local.

A grandiosidade de Juazeiro do Norte também pode ser entendida por meio do trabalho com a palha de milho da Associação Genipoart. Um trabalho que começa lá na roça com a orientação e capacitação dos pequenos agricultores na hora da colheita. Filhos de agricultores, Célia Felintro deu início ao grupo em 2000 e hoje eles produzem até 150 peças por mês, entre bolsas, cestos, luminárias e móveis. A artesã também é uma das responsáveis pela inovação no tingimento da palha que agora é feito a partir de uma tinta não tóxica, melhorando a qualidade de vida dos artesãos.

Outro local importante nesse roteiro é a loja da Associação Irmãos e Amigos da Arte Monsenhor Murilo (Airam). O personagem que dá nome à associação foi um dos grandes incentivadores do artesanato local, depois de Padre Cícero. O grupo é composto por 20 membros que têm o intuito de manter a arte do trançado de palha. Mas, eles também são conhecidos pelas malas de madeira que em diversos tamanhos representam o artigo típico dos romeiros.

Juazeiro do Norte é tão rica no artesanato que é preciso reservar pelo menos dois dias para conhecer todos os ateliês, oficinas, casas e lojas desses talentosos artesãos. Uma produção associada aos aspectos místicos, religiosos e culturais dessa metrópole do Cariri.

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Crato

Crato é a capital cultural do Cariri cearense. Também conhecida por ‘Oásis do Sertão’, a cidade fica no sopé da Chapada do Araripe e, por isso, destaca-se na agropecuária e extrativismo. É uma das cidades mais importantes e antigas do Ceará, com belezas arquitetônicas que remontam ao século XVIII. A religiosidade também está na história e cultura desse povo que homenageou Nossa Senhora de Fátima com uma escultura de 50 metros. Do local, é possível ver de longe a vizinha Juazeiro do Norte e as paisagens do Cariri, além de poder acompanhar um belo pôr do sol.

E em uma das principais avenidas da cidade fica a loja do artesão do couro André Cardoso, a Griffe do Vaqueiro. Sentado na entrada da loja, ele acompanha o movimento de carros e acena para os conhecidos que buzinam. Com aspectos da roça, o local é uma homenagem ao modo de vida do sertanejo nordestino com calçados, vestuários, indumentárias, bolsas e móveis de couro. A simpatia e receptividade de André deixam o visitante à vontade para comprar e prosear.

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Brejo Santo

A uma hora de Juazeiro, Brejo Santo é uma cidade tranquila e cuja economia gira em torno da agricultura e pecuária. É na área rural da cidade, no Sítio Pocinhos, que você encontra um dos maiores tesouros da região, a casa e ateliê de Francisco Graciano, escultor de madeira, filho do artista popular Manuel Graciano.

No refúgio, com vista para os serrotes da Chapada do Araripe, Graciano dá vida a personagens da cultura local e da sua imaginação fantástica em peças que impressionam. São telas e esculturas em troncos de madeira que ganham um colorido brilhante característico dele. A casa, que se destaca em meio às construções modestas da comunidade, ele quer transformar no Centro de Cultura Mestre Graciano e por isso sua arte também está nas paredes, como no mural em alto relevo da Banda Cabaçal em uma das paredes externas da casa. Uma visita para guardar na memória pela simplicidade e grandiosidade desse artista nato.

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Missão Velha

A meia hora de Juazeiro do Norte, Missão Velha possui um dos mais belos geossítios da Chapada do Araripe. A apenas três quilômetros da sede, a Cachoeira de Missão Velha compõe um dos nove pontos do Geopark Araripe. A velocidade das três quedas d’água, de 12 metros de altura, é uma demonstração da força da natureza. A cidade também abriga uma das mais antigas e belas igrejas do Cariri, a Igreja Matriz de São José de 1760.

Na zona rural, no Sítio Baixa do Quaresma, está localizada a olaria Mãos na Massa, da artesã Socorro do Nascimento (Corrinha). Com técnicas bastante artesanais, Corrinha produz potes cheios de identidade cultural nordestina e mensageiros de vento de barro que são um desafio, mas que se tornaram sua marca registrada.

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Várzea Alegre

O caminho até Várzea Alegre, a 91 quilômetros de Juazeiro do Norte, é um passeio pelo vale da Chapada do Araripe. Antigos relatos contam que os primeiros exploradores que chegaram na região, em direção ao Crato, ficaram encantados com a beleza verdejante do local.

A agricultura é predominante na região e é nas margens do açude Deputado Luiz Otacílio, que o artesão Marcílio Feitosa, da Associação de Integração, Desenvolvimento Social Sustentável (Assides), retira a taboa (junco do Nordeste) para fabricação de cestos, móveis e molduras para espelhos. No Sítio Barreiros, a 18 km da sede do município, ele desenvolve com a família e 11 agricultores o trabalho de geração de renda com o aproveitamento da taboa.

Em outra comunidade rural, no Sítio Mocotó, há 13 km da sede de Várzea Alegre, está localizada uma associação de grandes empreendedoras. Lá, o artesanato erradicou o analfabetismo e a mortalidade infantil como conta uma das fundadoras, Rosinha. Filhas de agricultores, 17 moças da comunidade se reuniam há 40 anos com intuito de produzir roupas de crochê para uso próprio. A partir daí, com a ajuda de instituições e programas de desenvolvimento, elas cresceram e superaram as dificuldades. Hoje, com dez sócias, produzem até 150 itens entre redes, colchas, sousplats, toalhas etc. As peças são feitas a mão e geram trabalho e renda para aproximadamente 300 artesãos da região.

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