Cariri

O grupo Genipoart nasceu de uma dificuldade no trabalho do trançado. “Nos anos 2000, estávamos criativamente limitados na associação em que trabalhávamos”, conta a presidente Célia Felintro. “Fazíamos sempre o mesmo produto e queríamos diversificar, agregar valor”. Eram cinco irmãs de sete filhas, dos 13 no total, de um casal de agricultores que trabalhavam com o trançado da palha.

“No período da colheita, entre agosto e setembro, todo mundo tem que ajudar”, conta Célia Felintro, presidente do grupo. “Todo esse trabalho é feito no sítio Jenipapeiro, no Crato, por isso formalizei a Associação do Grupo de Mulheres da Palha de Milho, como Genipoart.

“A gente planta, colhe e trança”, conta com orgulho. “Teve um tempo em que não tínhamos essa matéria prima. Quando estava na roça, conversava com os outros agricultores para podermos aproveitar o máximo possível da palha. A gente ia ao mercado ajudar os homens a vender o milho para conseguir a palha e conscientizar de que tudo no milho podia ser utilizado”, diz.

O trabalho de conscientização entre as famílias de pequenos agricultores inclui o plantio do ‘milho antigo’, que é maior e demora cinco meses para ser colhido (o menor demora três), e garante a produção do artesanato da palha. A colheita também não pode utilizar máquinas que rasgam as palhas para o artesanato. “Tem outras fibras, mas nossa especialidade é o milho e com a qualidade que a gente quer”, destaca Célia.

Por conta disso, nem sempre o grupo consegue a quantidade de matéria prima necessária para atender a demanda de 150 peças por mês. “Se hoje fosse a colheita eu teria que ter 500 sacas, para atender a demanda no inverno. Ano passado, conseguimos somente 300”, explica. As bolsas, cestarias, luminárias e móveis fazem parte do catálogo da Genipoart.

A exigência na qualidade leva o grupo cada vez mais longe. “Já estivemos em vários estados do País”, conta. Outra importante conquista foi a participação na descoberta de uma tinta atóxica para colorir a palha. “Só se trabalhava com a palha na cor natural. Passamos oito dias em um laboratório para testar o tingimento menos agressivo. Para a gente chegar nesse processo, era uma hora de casca cozinhando, depois uma hora de palha. Descobrimos que a tinta para fabricação de sorvete era a ideal para a palha de milho. Não tem a cartela de cores que estava disponível pela (tinta) industrializada, mas não agride nossa saúde”, ressalta.

Após tingida, a palha está preparada para o trançado, que é feito em forma em madeira com pregos, para cada peça. Com a palha fina constroem a estrutura, e com a mais larga é feita a trama. Todo o trabalho deve ser feito umedecendo a palha para que fique mais maleável.

Com uma história de lutas e conflitos, Célia se preocupa com a manutenção da tradição do trançado de milho. “Me pergunto quem vai nos suceder, mas sei que tem pessoas apaixonadas pela arte que estão aprendendo e que darão continuidade”, contrapõe. Célia faz questão de difundir a técnica em oficinas e já ensinou em mais de 40 municípios.