Aracati

Maria Beatriz, 82, mais conhecida como Dona Bia, é uma das maiores representantes cearenses de uma arte que corre o risco de extinção no Nordeste, o labirinto. Semelhante a um bordado feito a partir do desfiado do tecido, normalmente o linho, a técnica foi trazida de Portugal, em meados do século XVIII, e se inseriu, principalmente, no litoral nordestino. A maioria das labirinteiras aprendeu a técnica ainda na infância, por volta dos sete anos, observando o fazer de suas mães, avós ou irmãs mais velhas. Com a Dona Bia não foi diferente. Desde os oito anos ajudava a mãe no labirinto, para apoiar na criação dos 11 irmãos. 

Dona Bia nasceu e cresceu em Majorlândia, Aracati, antiga vila pesqueira de personalidades importantes para a história do Estado, como o jangadeiro abolicionista Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar. Dona Bia conta que foi a mãe do Dragão do Mar, dona Matilde, que ensinou a técnica do labirinto a muitas mulheres da praia. As memórias de Dona Bia são uma verdadeira riqueza de histórias e saberes do povo praiano. É preciso um bom tempo para conversar com ela e tomar um cafezinho na varanda da casa, em uma esquina privilegiada da praia, de onde se vê o agitado mar de Majorlândia. 

Com uma voz tranquila, porém firme, ela conversa sobre as heranças da colonização portuguesa em Aracati, os saberes dos pescadores e suas mulheres, dos belos azulejos da cidade às velas das jangadas, usadas para fazer os labirintos pelas mulheres dos pescadores, antigamente. “Foi por volta dos anos 50 e 60, que o labirinto chegou ao auge aqui na Majorlândia, passávamos noites e noites trabalhando em grandes enxovais”, conta. 

A mestre do Labirinto ainda tem o sonho de se tornar estilista. “Vou alcançar esse desejo, porque levo jeito para a coisa, minha meta agora é fazer um kimono de labirinto e eu vou conseguir”, afirma com o brilho nos olhos de quem ama e sabe o que faz.